Dia 34 - Como vc está?



Oi...esta não é uma segunda qualquer...


Ontem não foi menos um dia...


Minha reflexão de hoje vem de mais de um fato ocorrido neste fim de semana, ontem em um minuto, mudei minha visão de um fato e me surpreendi com meus pensamentos sobre algumas coisas.


Meu tio acordou de manhã com dores abdominais, muita dor, sozinho e envergonhado, por saber que a dor é consequência de seu vício, foi solitariamente ao hospital e lá permanece até agora. A mais de um ano atrás ele se encontrava nesta mesma situação mas naquela época, após passar 10 dias sem comer e nem beber, ele foi alertado de que seu vício poderia o levar de volta ao hospital e poderia ser fatal.


A primeira reação da família foi a de que ele fez essa escolha, um pouco de indignação, um pouco de tristeza, um pouco de revolta e um pouco de resignação também, como se esta fosse a única certeza e o ocorrido não fosse tão inesperado, e realmente não foi.


Está num hospital público e nestes não podemos ficar no quarto acompanhando, então, com a ajuda de um balde na janela de fora do quarto pude vê-lo e acenar, como dizendo: - Estou aqui com vc!


E seu olhar de dor e tristeza, querendo ter esperança de sua recuparação, mas receoso de que não fosse tão simples assim, me comoveu, e me fez querer que ele nunca tivesse se dado motivo para chegar até ali.


Mais tarde naquela noite outro olhar de tristeza me comoveu, o de uma pessoa que não sabia o que fazer para outra se sentir melhor. Ouvindo a história, em determinados momentos, cheguei a me revoltar, pensei que podia ser frescura e tal, mas também me fez recordar o meu passado e do reflexo dele em minha vida, de como os atos de nossos pais nos influenciam e como não nos damos conta disso, e quando damos, como é difícil lidar com isso.


Por muitas vezes ao ouvir a história dessa outra pessoa eu fui intolerante com suas dificuldades, assim como eu e minha família ficamos de certa forma intolerantes as dificuldades do meu tio, mas em algum momento naquela conversa eu mudei de idéia e fiquei grata, por ter superado, por ter tido consciência desse fato e por ter feito outras escolhas, que me levaram a um caminho, talvez, menos sofrido.



Então, deixei minha intolerância de lado e me compadeci dos dois fatos.


Deve ser horrível se sentir assim, como eles, tentando se agarrar a alguma coisa ou alguém, achando que dessa forma seu sofrimento vai passar, por muito tempo fecharam os olhos para seus vícios e tristezas achando que postergar um confronto consigo mesmo ou com os outros iria não só retardar os fatos mas acabar com as consequências de suas omissões.


Eu não tenho muito o que fazer em nenhuma das situações, não posso mudar o passado, pagar sofrimento com sofrimento e nem fazer escolhas por outras pessoas, mas posso fazer uma coisa...posso reconhecer o limite das pessoas e suas dificuldades, posso reconhecer meus limites e tentar superá-los, posso amenizar esses momentos com o que vivi até agora, eu posso e quero ajudar, então, se vc tem carinho, amor, amizade por alguém, se é essa pessoa que penso que és, seja honesto, sincero e amigo, não é nenhum sacrifício dar carinho e apoio a alguém, se dentro de nós temos amor de sobra.

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