Dia 155 - Despertar

O despertar tem muitas fases, algumas sutis, como aquele raio de sol tímido que entra pela janela numa manhã de outono. Outras vezes, é um despertar súbito, como uma mudança de clima repentina no meio do dia, e há o despertar gradativo, como na primavera, onde os dias gradativamente vão ficando cada vez mais quentes.

A analogia com as estações não é por acaso, é que mudamos como as estações e não com as estações. Se reparar, concluirá que o verão de dez anos atrás não é o mesmo que o verão atual, que a natureza mudou devido as influências que sofreu durante todo este tempo, portanto, reage e interage de forma nova a cada ciclo. Assim também somos nós.

Precisamos das nossas estações, para nos aprimorarmos, e quando ela não acontece naturalmente, algo externo acontece para nos mudar, porque mudar é necessário.

Jamais diria que essa necessidade é fácil, que não dói, que não destrói, que passamos ilesos e afastados de um desconforto, que não temos que escolher, sofrer, mas certamente, conscientes de nossas atribuições e sonhos iremos sobreviver.

Sempre gostei de flores. Rosas, Copos de Leite e Girassóis são meus preferidos, cada um com seu significado pra mim, então, quando estou triste, quando estou pensativa, quando preciso de algo para me lembrar que o 'tempo' mudará, penso nessas flores.

A Rosa com seus espinhos, todos temos espinhos, nem por isso ela (a rosa) se torna menos bela, menos atraente, menos formosa. Quando retirada da natureza costuma lembrar-nos da necessidade de ser inteiro até o fim, da necessidade de doar o melhor de si, de concluir sua sina até o fim, desabrocha com uma beleza estonteante, abre-se para o mundo, distribui sua formosura, hora brindando amores, hora alegrando nossas primaveras, e nunca uma Rosa é tão bela, como antes de sua morte. E no lugar de onde fora retirada, no meio dos espinhos solitários, muitos poderão dizer que não haverá mais nada, mas eis que outra Rosa surge e nos cala, nada morre, nem se apaga. A Rosa que outrara fora retirada agora é parte da história de alguém, perpetuada. A que nasce, ainda jovem, fresca, exala seu perfume e se prepara para cumprir sua jornada, transformada.

Copos de Leite, tão singelos, leves, sempre me lembra a inocência, a pureza e a leveza que vamos perdendo pelo caminho. Sempre me aliviam o coração quando os vejo, são como abraços, tanto em um gesto tão simples. Talvez por terem este significado, de pureza, é que enfeitam as igrejas em dias de bodas. E quer dia mais lindo? Onde o amor se consagra, onde o orgulho se cala e as pessoas se doam. Romântico assim, senão as bodas teriam fim antes do começo. Mas os Copos de Leite são um refresco para meus olhos, sua simplicidade, me lembra que preciso ser humilde, que preciso ser simples, porém preciso crescer. Já repararam no tamanho da haste de um Copo de Leite? Então, para crescer não precisamos perder toda a pureza que há em nós, todos os valores, toda a simplicidade. Há que se crescer sempre, com humildade.

Girassóis, tenho um em gesso na minha mesa de trabalho e mesmo que não natural sempre o tenho ao meu lado, por um motivo simples, para me lembrar de olhar para o sol, sim, olhar o horizonte onde o sol está, seguir adiante, amanhecer com o dia, não morrer com a noite, e no dia seguinte olhar para o sol com o mesmo deslumbre de como quando o percebi pela primeira vez. Assim abro minhas petálas grandes, abrindo os braços, e todos os dias abraço o sol que me aquece, num abraço de amante. Sinto-me viva, radiante e acreditando que é possível, apesar de conflitante, trilhar meu caminho pois não estou só.

E assim, meus amigos, estou tentando lidar com meus conflitos. E assim, digo pra mim, que preciso caminhar, não importa o que aconteça, aconteceu ou acontecerá. E escrever parece fácil, mas não é, é tão difícil quanto dar o primeiro passo a adiante, quando se quer voltar. Pois quando escrevemos percorremos caminhos distantes, caminhos que antes não pensávamos em trilhar, caminhos desconhecidos e é grande o risco de nos perdermos por lá. Mas quando volto e escrevo, flores, amores, sonhos sem pudores, minha esperança se renova por conseguir me despertar, amanhecer, ver o sol pelo lado de dentro brilhar.

Comentários

Elvira Carvalho disse…
Digamos que a minha amiguinha dissertou maravilhosamente. Fiquei encantada, tão embevecida que quase a sentia aqui ao lado com o girassol e tudo.
Parabéns. Como é que vocês dizem?
Ah! Mandou bem.
Um abraço
O Profeta disse…
Olá cara amiga, que pena não a ter perto de mim, seria interessante te-la a escrever para a minha companhia de teatro...


Doce beijo
Elvira Carvalho disse…
Passei. Deixo um abraço e votos de bom Domingo.
Elvira Carvalho disse…
Passei por aqui. Tenho duas notícias. O netinho que vem a caminho é uma princesinha. E no Sexta está o primeiro capítulo de "Vidas trocadas".
Um abraço
O Profeta disse…
Passei para te deixar um terno beijo...