Dia 164 - Um retalho de mim

Nascerei de novo, na hora certa ou na hora errada, mas estarei lá, de pé, disposta, para o tudo ou nada.

Arriscarei mais um vez, diante de caminhos mal traçados, escreverei histórias de encontros, desencontros e taças com vinhos inacabados, mas serei eu o tempo todo, não uma qualquer circunstância ou quadro mal pintado.

Quando sufocada em lençol ou abafado o som das minhas ânsias, revoltar-me-ei contra a insignificância e rasgarei esta veste imaculada, queriam ou não a santa, prevalecerá o "escorpião".

Talvez, nunca compreendam a minha natureza, podem pensar que ela não combina com a sala de estar, toda branca e bem arrumada, numa ordem muda e gelada. Talvez pensem que sou mais bela num quarto. Mas esta opinião não altera o meu valor.

Já dizia aquela história do alfaiate que não possuía tecido para preparar as vestes do Rei vaidoso, tinha de sobreviver aquela situação, agradar ao rei ou perder a cabeça, mas o alfaiate tinha mais que tecidos, cortes, bordados...preparou a roupa do rei e disse-lhe que somente os inteligentes poderiam ver o tecido presente. E eis que o Rei, que nada viu aparente, disse ao alfaiate: Que linda roupa preparaste!

Pois se falta algo que os agrade, humildimente posso lhes afirmar que me sobram belas fazendas na alma, como as do alfaiate, e faço delas as minhas roupagens, tentando sempre me renovar...e se nua me veem por essas estradas, estarei mais bem vestida que com roupas bem elaboradas, pois serei a minha verdade, exatamente assim, transformada.



Consegues ver?

Comentários

Elvira Carvalho disse…
Lindo este texto. A recordar-me os tempos em que aqui vinha e ia deliciada com o que lia.
Um abraço e tudo de bom
Branca disse…
Se consigo ver...!
Vou daqui deliciada com este genial texto, Geo.
Você é mesmo isso aí, uma linda menina de roupagem variada, você mesmo, arrumada à sua maneira para quem souber ver e respeitar, para quem souber deliciar-se com a sua enorme sensibilidade e humanidade.
Eu adoro assim, quanto mais autênticos e tranparentes somos, mais humanos. Nada de "santos", de "santos não reza a história", como se diz por aqui.
Deixo-lhe um grande beijinho
Branca
Elvira Carvalho disse…
Passei. Na ausência de novidades deixo uma abraço e votos de uma boa semana
O Profeta disse…
Estupendo texto...!


Doce beijo