Dia 434 - Galatéia

Onde fica a tênue fronteira entre o sonho e a realidade?!
O que amamos sempre é quem amamos?!
Onde termina um e começa o outro?!
As vezes, imagino o olhar de felicidade de Pigmalião em direção a Galatéia ao observar seu primeiro movimento.
O instante que ultrapassa a perfeição, já que ela era a própria...
Um instante tão inimaginável e transcendente que não foi escrito, em seu lugar, um "happy end".
"Queremos" pessoas reais, mas, muitas vezes, buscamos o ideal.
Abandonamos Galatéia quando ela deixa de ser perfeita. Seus gestos não são tão leves, seu hálito não é tão doce, sua pele não é tão lisa, sua fala não é suave ou se assim fosse? Tudo que Pigmalião queria. Seria então a monotonia e a morte de todos os seus sonhos?!

Prefiro pensar que ela era uma das estátuas que não deram certo, aquela no canto do atelier, mas, um dia ao se olhar no espelho Pigmalião lembra-se dela e de sua semelhança em relação a ele mesmo. Ao se pôr diante dela, cada parte imperfeita dele faz sentido porque ela jamais seria igual a nenhuma outra, porque assim como ele, era única. E ele então compreende o conceito de "perfeição" e bem diante dos seus olhos ela torna-se tão humana quanto ele poderia ser e sua obra, finalmente, se completa porque tudo que se tornara era tão somente o que já possuia, o amor que tinha dentro de si, que refletia nela. Ela jamais se mexeu, jamais tocou-lhe a face, ele nunca tocara seus cabelos. E nunca fora tão bela e perfeita quanto o dia que concebeu a sua imperfeição.

Se perguntassem a um mestre a moral desta história ele diria que foi o instante que aquele ditado nasceu.

- Qual ditado?! - Perguntaria o aprendiz ansioso.

"A beleza está nos olhos de quem vê", mas, assim também o amor, está no coração de quem o sente. Ele não será entregue a você, para que exista precisa cultiva-lo, para que o sinta precisa entrega-lo. - Diria o mestre em tom paciente e terno ao seu aprendiz.

E ninguém saberá dizer onde fica essa fronteira, pois em cada um o limite é diferente.

E ninguém sabe o quanto uma realidade é suportada sem sonhar e o quanto um sonho dura sem a possibilidade de tornar-se real...

E o quanto para ser o que somos dependemos um do outro.

O que é ideal? Certamente o que é para um não o é para outro, assim como Galatéia era perfeita sob o olhar de quem a criou e não necessariamente seria sob o olhar de todos.

E quem viverá um lado só?!

_Geo SRosa_



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