Dia 438 - Eu costumava pedalar...


Na verdade pedalar, desde sempre, foi um grande amor, não paixão, porque essa passa. Mas, faz anos que não pedalo... Então era paixão?! Não. Na verdade criei raízes, depois minhas cascas se tornaram grossas demais e eu mudei. Por dentro ainda corre a seiva... Mas, quem me vê, não vê aquela que fui, mas, somente a que me tornei. E muito do que eu amava foi absorvido por mim para dar lugar a outras coisas, que eu decidi serem mais prioritárias. Então, a bike enferrujou e eu me esqueci do vento nos cabelos enquanto pedalava, da sensação de liberdade e poder em depender somente das próprias pernas, de não haver obstáculo, rua sem saída ou lombada que me desanimasse... Da dificuldade e dor ao subir um morro para depois sentir o prazer e a leveza em descer...
Nos esquecemos do auto cuidado, do auto carinho, da auto estima, nos esquecemos de olhar pra dentro... E por muito, muito tempo olhamos para fora...
Enquanto consumimos lembranças, bicicletas e ventos no cabelo.
Não. Não digo porque estou em distanciamento social, porque em relação a tantas coisas vamos nos distanciando ao longo do tempo. E quando me vi árvore quis ser pássaro... E quando vi a minha 'magrela' consumida nesta árvore que me tornei eu quis me libertar... Da 'culpa', do que não pude fazer, ou não quis, por que fazia o que achava melhor em outros momentos. Nos esquecemos também do auto perdão.
E quis me perdoar, para continuar a ser a mulher que me tornei, meio árvore, meio pássaro, mas, alguém que ainda sabe pedalar, porque isso, passe o tempo que passar, nunca desaprendemos mesmo que, por um tempo, nós esqueçamos.


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