Dia 466 - Das perguntas muito mais do que as respostas

 (...) Há dias como beber água quente, não morremos de sede, não saciamos. Gosto particularmente de escrever nestes dias, uma gota refrescante em meio ao calor da ansiedade.

(...) Quando criança comprei um caderno para escrever contos e desisti no primeiro pois seria tudo "inventado" e eu não queria "inventar", faltava algo, faltavam as lembranças... Na verdade, penso que nunca teremos lembranças suficientes porque nossa concepção humana é a de que nunca vivemos o suficiente...

Quando penso em minha vida, tirando o que considero meu maior presente que foi ter nascido, o momento mais significativo foi ter tido meu filho.

Ele me faz perguntas, muitas, eu o amo, e amo respondê-las.

Noutro dia ele me perguntou como eu sabia tantas coisas? – confesso que essa eu não esperava, e foi uma das mais difíceis, porque eu acho que não sabemos de muita coisa, então, respondi com sensatez, até para estimular o seu aprendizado.

- Porque eu leio meu filho! – e sorri meio sem graça porque não leio tanto assim, ou pelo menos o quanto tenho pretensão de ler, ou gostaria. E não me perguntem por quê?! Não vou responder.

Sou muito grata a Deus por ter me confiado este ser como filho e tento, todos os dias, aceitar e compreender que ele não me pertence.

Por mais que o cheire, que o fite, que o toque, aperte, nada me faz gravar o suficiente na memória o que o tempo apaga em nós com tamanha facilidade. O que me remete as areias do deserto, inúmera e passiva (como o tempo).

De tudo, mesmo que a lembrança me falhe a memória, mesmo que ele cresça ou que tenhamos dias como beber água quente, de tudo, só tenho um pedido:

- Que ele sempre me faça perguntas!

Mesmo quando ele descobrir que eu nunca tive ou terei todas as respostas.



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