A Ilha do Medo

 

Em dias difíceis, palavras novas emergem. Visitamos o passado, questionamos o presente e tentamos não projetar futuros, porque não acreditamos, porque somente desejamos sonhos que não sabemos se concretizarão.

Nem tudo depende de nós. Há danças que não devem ser solitárias. Há solidões que não são solitude. Há palavras que são o que são: doces, amargas, frias, quentes — são exatamente a intenção de quem as profere.

E há silêncios frios como gelo, repletos de indiferença, sem qualquer cuidado, sem qualquer empatia, sem qualquer alma… Silêncios que cortam como a lâmina de uma navalha, por conterem em si somente a indiferença.

Quando sinto assim, eu sempre presto atenção aos olhares. Podemos envelhecer, mas nossos olhos sempre contaram a história da nossa alma, não a história que todos podem ler. Talvez por isso estamos tão frios, porque nosso olhar não passa de uma tela em preto e branco. Nossas impressões são paredes coloridas artificialmente, e estamos todos a gritar pela vida que está atrás da janela, atrás da cadeira, ao atravessar uma porta…

Podemos ser quem quisermos neste mundo sem corpo; podemos compreender que o corpo irá morrer, mas não se engane: poderemos morrer antes, entre palavras e silêncios, numa distância segura, através de uma vitrine que nos protege de nossos sonhos e desejos. Uma vitrine segura demais, tão segura e confortável quanto uma prisão sem trancas, numa ilha em meio ao mar com nossos medos.



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