Dia 483 - Mil razões em palavras

Não tenho escrito muito...Nos tempos que a realidade nos consome, que tempo reservamos para nós mesmos?! Quiça para outrem...

As vezes, a rotina que se torna desculpa, torna-se também sua amiga, sem muitas explicações, tudo começa e termina nela.
Mas, não consigo ignorar a inspiração por muito tempo, por mais que eu o faça, no meu peito faltará algo... Não podemos ignorar o que somos...
No entanto, a todo tempo, a sutileza passa desapercebida. Por quê? Talvez, pela nossa busca incessante pelo arrebatamento ou a famosa rotina.
Todavia, sutilezas me alcançaram estes dias e eu distraída suficiente da rotina, ou cansada mesmo, sentei-me diante do tempo a observar. Congelei meu corpo, fixei meus olhos, calei minha boca e lembrei de respirar... Sim, é fácil esquecer de respirar, piscar...
Estava pronta e pude ver um olhar de gratidão, um sorriso de alegria por um gesto que eu poderia facilmente ter realizado e pronto, ido para casa e a vida que segue, sem perceber que boa parte da nossa felicidade está na do outro.
Mas, não, eu congelei e o tempo também. O suficiente para aquele instante se eternizar em mim, o suficiente para querer dar-lhe a importância que tinha...
Nossa... Que alívio! - pensei - Ainda estou viva e respiro.
Em seguida meu filho me ensinou uma lição. Lembrou-me que o perdão não resgata a quem perdoamos, ele resgata a nós mesmos.
Nem sempre pronunciamos palavras doces e muitas, muitas vezes, não temos coragem de pedir desculpas ou até mesmo pensar a respeito... O caminho para o perdão passa em abrir mão da dor que nos causaram ou da culpa que sentimos, para ver além, para encontrar "sutilezas" que justifiquem a nossa crença no amor, que justifique as escolhas que fizemos, uma razão superior que faça tudo valer a pena.
Eu ainda não tenho conclusões para está reflexão, continuando...
Eu apenas sou grata por pelo menos num instante ter despertado em mim o poder de ver algo além de mim mesma...
E a resposta veio da boca do meu filho numa situação isolada, quando eu lhe disse que não precisava me dizer porque eu sabia do seu amor, mesmo que não fale ou me diga palavras com raiva...
E o tempo congelou novamente, ele levantou seus olhos marejados e inocentes e respondeu que ele sabia, mas, me dizia porque era importante para ele e que se sentia melhor depois de fazê-lo.
Então, eu entendi, o poder do perdão e por que o amor é capaz de parar o tempo.
Alguém já disse, não são minhas palavras, que o óbvio também precisa ser dito. Entretanto, hoje o que se considera 'óbvio' tornou-se difícil demais ou simples demais para uma vida cheia de prioridades.
Eu escrevo, depois de tanto tempo, somente pelo óbvio, porque amo o amor e suas sutilezas. Escrevo porque me sinto melhor ao tentar compreende-lo e feliz ao parar o tempo para dar a uma sutileza mil razões em palavras para se eternizar... Para dar a ela uma estrada a ser cultivada no coração de alguém, abrindo um espaço, mesmo que pequeno, ao óbvio nesta selva que carregamos no peito.

GeoSRS


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