Dia 484 - A casa velha

Eram sempre tardes amareladas e mornas, cheirando a páginas de livros que a muito foram lidos. Era sempre aquele piso lustroso, denunciando horas de trabalho para que, talvez, alguém, assim como eu, o admirasse a beleza realçada as custas de muita dedicação e suor. Camada após camada de cera, cujo cheiro ainda está fresco em mim. Era o Sol através das janelas de madeira sem vidros, mas, com persianas que toda as tardes eram fechadas pro mosquito não entrar. Era através delas que tudo ganhava a nuance dourada e ao mesmo tempo opaca que ainda me habita. E aquele brilho, aquele brilho que eu achava ser ouro em pó, reduzido ao nome de poeira, fazia tudo cintilar, dando magia a tábuas listradas e frias, nas tardes que passei a sonhar. Era uma casa velha, chamada de barraco que a muitos veio acolher e abraçar. Era coisa eu sabia, sempre foi coisa aquela casa vazia, mas, agora é poesia, todas as vezes que ainda vou lá.

GeoSRS





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