Dia 112 - Percepção

Sinto-me servida como uma entrada

Num jantar para o qual não sou a convidada

Sinto o ambiente

Sinto a penumbra

Me sinto aconchegada

Embriago-me como quando num bom vinho bebemos a felicidade

Mas bebo água

Dos sabores doces tenho a esperança

Que perdurem no céu da minha boca

Onde posso manter as estrelas sem luz própria, desde que as alimente

O cheiro do prato principal me atrai

Por um momento vejo-o vindo ao meu encontro

Mas como miragem se desfaz

Então sinto a abstinência, como se estivesse presa num deserto

Sinto o gosto do que não foi provado

E fico a ter ilusões de oáses que não existem

Mas persistem em mim

E assim o jantar prossegue

Sorrio com elegância

Seguro os talheres corretamente

Risos e conversas agradáveis

Tudo perfeitamente normal

Sinto até que não preciso do prato principal, afinal,

Estou aparentemente saciada e satisfeita

Bebo e transpiro excitação

Entrego-me como se estivesse fazendo uma declaração

Mas as velas sobre a mesa se apagam

Finalizando sem emoção este jantar sem sobremessa

Então sinto 'fome'.

Comentários

Anônimo disse…
Se estivesse nesse almoço iria degustar tudo e todas , bem devagar e sem tomar nenhum líquido só para não atrapalhar na digestão.
Elvira Carvalho disse…
Voltou muito inspirada Geo. E faminta...eheheh...
Uma boa semana
Um abraço
António Inglês disse…
Bem Geo!
Que banquete! Que iguaria! Que doçura!
Como diz a Elvira, vem inspirada...
Um grande beijinho
José Gonçalves
Anônimo disse…
Ninguém pediu para estar neste jantar... e como diz Torga é como ver a amada que nunca será nossa (a visa)...
Fome estando saciado é a sina de quem sabe...esses que que deixaram de ter fome já não vivem...
A esperança feita fé é apenas a ilusão de um jantar que nunca terá sobremesa...nunca...o pó é o que nos espera...nada mais...
E presos neste deserto temos de ser a nossa criação e fazer do presente o nosso prato principal...aqui, agora, num presente feito eterno e deste inverno fazer primavera...ainda que sem outra flores que as que inventarmos...e algures no escuro que as velas que se apagaram criaram alguém dar-te-á a mão...
Quem?
Pois apenas alguém que sente como tu a sua condição humana
Um Beijo Vicente
PS - ah, esquecia o mais importante...voltou inspirada...lol...
Elvira Carvalho disse…
Um bom fim de semana.
Um abraço
António Inglês disse…
Venho só desejar-lhe um óptimo fim de semana
José Gonçalves