Dia 72 - Tsunami de emoções, meu pesadelo.

Esta noite sonhei de novo com aquela Onda Gigante, que teima em destruir tudo que estiver em sua frente. O engraçado é que eu não sonhava com ela fazia tempo, e é sempre do mesmo jeito, eu olho para trás, ela está vindo, eu tento fugir, mas sempre tem um morro em minha frente que tenho que escalar, tento subir o mais rápido que posso, mas o morro é íngreme, minhas pernas não tem a mesma força que antes, tudo parece sinuoso e em declive, qualquer passo errado eu caio e a onda me pega.

No meu desespero eu olho novamente para trás e sinto a dor da perda de meus entes queridos, vejo algumas pessoas tentando sobreviver a aquilo tudo e rezo para que dentre elas alguém sobreviva, corro e chego numa rua e sei que ela me levará para perto de uma pessoa que quero muito salvar daquilo tudo, mas o que é perto torna-se longe e eu nunca consigo alcançar, não vejo final.

Estou no alto do morro e olho para baixo e vejo as águas revoltas e o desespero de quem, de alguma forma, ainda está vivo, e penso que meus problemas ficam pequenos diante de toda aquela devastação.

Não sei o que fazer, não consigo chegar a lugar algum, porque o chão torna-se uma esteira e não me deixa ir, ou sigo com dificuldade. Eu começo a suar e a cansar, por fim choro, por não saber como sair daquela situação, não tenho idéia de que é sonho, tudo é tão real, tão sofrido, tão triste...

E eu só consigo pensar se as pessoas sofreram ao morrer, ou se eu morrerei rápido, se vai doer, ou se a paz vai me tomar em qualquer momento...e nessa aflição e angústia, entre desespero e luta...eu acordo...

Abro os olhos e vejo meu quarto, lá está o teto branco, o ventilador...olho pro lado e vejo meu gato, me olhando, como se quisesse entender o que se passa em meus olhos, sabe Deus se gemi ou chorei!! Respiro...ainda estou viva. Graças a Deus!!! - penso. Mas a angústia ainda em meu peito, a sensação de perda e da possibilidade, não tão absurda, desse cataclisma acontecer permanecem.

O tempo passa, e começo a pensar, que depois de tantos anos sonhando a mesma coisa, há algo em comum nos períodos que este sonho acontece...quase sempre estou numa fase inquietante, de mudança interna profunda, ou de grande reflexão. Penso que queria um Moisés pela manhã, para decifrar esse tormento e me dizer quantos anos de "vacas magras" terei? Ou quando serão os anos de fartura? Que tipo de futuro me aguarda? Ou porque o passado me perturba?

Quero respostas, quero consolo e a certeza de que este sonho é símbolo e jamais será fato...

Que trata-se de uma fase, talvez de despedida, talvez de busca, conflitos, mar revolto dentro de mim, possibilidade de perda ou um ganho de vida, não há certezas nestes pensamentos, só questões, só conjeturas.

O estranho é a paz dentro do tormento, que apesar de ver tudo a minha volta sendo engolido por águas geladas e profundas, eu consigo subir o morro, e mesmo sem saber se lá estarei segura e sobreviverei, fico feliz, por ainda ter a possibilidade de estar viva.

É estranho porque isso eu consigo entender...paz mórbida e confortante...que vê, não no que foi mas, no que virá uma chance, uma nova fase, um "Vale perdido" onde os sobreviventes possam ficar juntos e onde podemos começar de novo, talvez melhor, talvez diferente...segunda chance.

Mas meu sonho, até hoje, ainda não chegou nessa fase branda, acho que ainda estou subindo o morro e lutando pelo desconhecido, ainda olho para trás e sinto a dor, não do que se foi, mas do que não será.

Hoje pela manhã, acordada e um pouco aturdida, ouvi num programa de TV: Sabia que "viver não dói.... O que dói é a vida que não se vive".

Então, parei...pensei...e me peguei sofrendo pelo que não vivi, assim como sofria no sonho pelo que não viveria...e assim tive "meu Moisés" que tanto pedi, e assim entendi minha dor e angústia...e assim definitivamente acordei nesta manhã e tomei a única atitude que poderia, começei a viver meu dia! Sem pesadelo, só sonho.

Comentários

Anônimo disse…
se viver for em si um pesadelo...porque há gente para quem viver é um pesadelo e apenas restam sonhos...e a onda enorme que vem atrás de nós é, a nada mais nada menos, que a nossa impotência...o corvo de Miguel Torga saira da arca de Noé para enfrentar de frente a degradação que recusara...da próxima vez que sonhar...caminhe em direcção à onda...como o pássaro que com a gaiola acabada de abrir pelo seu "senhor" não voa...assim afirme a sua vontade de escolher o seu destino...não é a onda que escolhe por si...é você que decide...quem sabe ela vira lago...
Um beijo
Vicente
Elvira Carvalho disse…
Menina, é a 3ª vez que venho aqui hoje. Vamos a ver se é desta que consigo deixar o comentário.
Então é assim. Dramático o seu pesadelo. Sim porque os pesadelos do sono podem ser quase tão dramáticos, como aqueles que se vivem acordados. Numa má época da minha vida, tinha todas as noites o mesmo pesadelo.Algo tão doloroso que quase me endoidecia.
Até perceber que os pesadelos são o fruto, dos nossos medos, das nossas frustrações.
Quando o percebi, deixei de ter pesadelos. É como diz o Vicente. Se enfrentar a onda, talvez ela se transforme num belo lago...
Bjs
Anderson San disse…
nuss,derrepente valeria apena a emoção de ser engolida pela onda, quem sabe descobrir o mistério da vida ou romper a barreira do imaginário, realmente comprovar se existe outro plano ou um universo paralelo, quem sabe ... se sonhar de novo, aguente e encare, ao ínves de correr vamos tentar descobrir coisas novas e sensações que nunca tivemos, poço te dar a mão, bj.
Elvira Carvalho disse…
Olá Geo:
Vim aqui para lhe dar os parabéns pelo prémio. Você merece.
Um abraço, e tudo de bom...
Elvira Carvalho disse…
Bom fim de semana amiga. E não se preocupe, eu não fujo. Vou estar sempre aqui quando a sua disponibilidade temporal e sentimental, lhe permitirem vir ao meu cantinho.
Só me preocupa que esteja bem de saúde.O resto... que importa?
Bjs
Unknown disse…
Boa idea vivir os sonhos e apartar os pesadelos.
Eu as veces sonho algo parecido, tento evitar unha desgrcia a unha persoa querida pero non podo facer nada. Quero correr e as miñas pernas estén quietas. Quero berrar mais no articulo palabra. É terribel e dame algo de medo.
Prefiro pensar que vivivimos nun estado de busqueda permanente e que a felicidade consiste en estar ben hoxe e agora sen agustias polo futuro.
Levo unhas semanas muito contento e relaxado. Gustaria enviar algo desta felicidade e serenidade para ti.
Un beijo
Elvira Carvalho disse…
Passei por aqui geo. A porta está fechada. Vou embora. Volto outro dia. Seja feliz
elvira disse…
A porta continua fechada...
Um abraço