Postagens

A Ilha do Medo

Imagem
  Em dias difíceis, palavras novas emergem. Visitamos o passado, questionamos o presente e tentamos não projetar futuros, porque não acreditamos, porque somente desejamos sonhos que não sabemos se concretizarão. Nem tudo depende de nós. Há danças que não devem ser solitárias. Há solidões que não são solitude. Há palavras que são o que são: doces, amargas, frias, quentes — são exatamente a intenção de quem as profere. E há silêncios frios como gelo, repletos de indiferença, sem qualquer cuidado, sem qualquer empatia, sem qualquer alma… Silêncios que cortam como a lâmina de uma navalha, por conterem em si somente a indiferença. Quando sinto assim, eu sempre presto atenção aos olhares. Podemos envelhecer, mas nossos olhos sempre contaram a história da nossa alma, não a história que todos podem ler. Talvez por isso estamos tão frios, porque nosso olhar não passa de uma tela em preto e branco. Nossas impressões são paredes coloridas artificialmente, e estamos todos a gritar pela vida qu...

O Algoritmo das Possibilidades

Imagem
A teoria quântica dos mundos paralelos, também conhecida como Interpretação de Muitos Mundos (IMM), propõe que cada evento quântico com múltiplos resultados possíveis gera novas ramificações do universo — um multiverso em constante expansão. De certa forma, essa também parece ser a nossa realidade. Somos renovados a cada geração. A minha vive entre o analógico e o digital, e às vezes me pergunto a qual mundo pertenço. Talvez a nenhum. Talvez a um mundo de transição. Por isso, a teoria quântica, na minha mente leiga, soa tão natural quanto qualquer lei da natureza: tudo é mutável. A menor criatura evolui. Até as bactérias e os vírus evoluem. E assim também nós: a cada passo criamos uma ramificação que antes não existia. Abre-se, diante de nós, um infinito de possibilidades que surgem no instante mesmo em que pensamos, agimos, escolhemos. Tudo vibra em consonância com nossos pensamentos — é assim que opera o algoritmo da vida. Embora esses mundos paralelos existam simultaneamente, não...

2025 - Epilogo de Ano Novo

Imagem
  A caminho de mais um dia, de mais um ano… No trilhar de histórias cruzadas, sem enganos nem acasos… Tudo, tudo o que fica é vida. Sentada, mentalizo meu desejo mais profundo de paz: a cena seria ela, sentada na areia, diante do mar, e o único som seria o das ondas quebrando — um ir e vir de alento, de silêncio interior, de fazer de conta. Partilho essa cena como quem partilha pão; não se nega pão nem água. Então por que nos negamos a paz almejada? Malditos desejos! Mas, se não fossem eles, morreríamos — porque é impossível viver sem desejar a vida. Então compreendi as palavras que ouvi há muitos anos. Ele me disse que não somos livres. Eu discordei. Mas, para quase tudo aquilo que pensamos saber, somente o tempo traz, de fato, as respostas — se fizermos as perguntas certas. Nessa divagação com direito a retrospectiva e às filosofias de ano novo, entrego-me ao desejo novamente. Sem licença, desejo e desejo, como quem bebe água salgada. Lembrei-me de um poema de Miguel Torga. Eis o...

Dia 499 - Meu Sol

Imagem
Eu não escrevo sobre a escuridão, não enquanto eu puder evitar... No escuro não se pode sentir, ver ou respirar, no escuro imaginamos o medo e damos a ele vida, disforme e sem mérito... Eu escrevo sobre as coisas que me tocam... E quando olho diretamente para elas é que as vejo e sinto, mesmo que, às vezes, doam... Eu não vejo no escuro... É no reflexo, no mundo do lado oposto do espelho que respondo a mim... É preciso apenas uma fresta para que a luz se faça presente e corte, precisamente, qualquer escuridão... E eu busco essa luz, que me atravesse e me permita pensar que, de alguma forma, este caminho pelo qual, às vezes, me perco... De mim nunca se perderá. Então, fecho os olhos e mentalizo... A intensidade e a força do Sol... E ele me mostra um caminho para que eu possa trilhar e sigo em frente. GeoSRS Foto: Amanhecer Rio de Janeiro - Maio de 2023 - Foto by GeoSRS

Dia 498 - A arte é ser você

Imagem
Já escrevi isso antes e me questionei inúmeras vezes a minha necessidade de escrever. Parei com isso. Agora apenas escrevo... Este despir-se, às vezes, despudoradamente, exercita nossa coragem. Em geral, nos vestimos mais que nos despimos... Porém, tenho prazer em estar "nua"... Não estou tratando do sentindo literal ou erótico da palavra, embora, estar nu em qualquer sentido, ao meu olhar, é sempre erótico, uma ousadia diante de filtros e ilusões que criamos para viver nosso dia a dia. Mas há uma libertação em "despir-se"... É tanta roupa que acumulamos que não caberia num palácio, é tanta roupa para corpos tão pequenos e frágeis, que precisam ser amados... Despimo-nos para dar amor... Vestimo-nos para sermos amados, isso cansa... E como "vivo cansada", sinto necessidade de estar 'nua' em minhas palavras e compartilho porque estamos imersos numa legião de cansados, vestidos ou não... A única coisa que me propus é não me importar com a opinião alhe...

Dia 497 - Das histórias que não contamos

Imagem
Das histórias que não contamos, as lágrimas que não deixamos rolar, a dor de cada momento, a ferida que demora cicatrizar... Das histórias que não contamos, os sorrisos que colhemos e entregamos, as palavras que não nos deixam cair, o amigo que partilha seu dia, o pai e a mãe que te sustentou um dia, os filhos que não te deixam desistir... Das histórias que não contamos, as guerras internas que travamos, os amores que chegam e partem, aquilo que fica e vamos levando, nos apropriando, depois de tantos enganos, de alguma dignidade... Das histórias que não contamos, do quanto sonhamos ou não, das conquistas à base da nossa exaustão, da privação e da ansiedade... De ter chegado até aqui e ainda conter em si alguma sanidade... Das histórias que não contamos, humilhações e reconhecimentos, a verdade e a falsidade, a dualidade que parece tormento, mas que pode ser lição e oportunidade... Por detrás de toda história que não é contada uma vida, de tudo ou nada, parida e nem sempre vivida, que n...

Dia 496 - The Blue Bird

Imagem
Meu filme favorito chama-se 'The Blue Bird', com Shirley Temple, de 1940. Ele retrata a história de duas crianças, irmã e irmão, que saem através do tempo (passado, presente e futuro) em busca da felicidade que perderam, que no filme é representada por um pássaro azul. Um pássaro que eles acham terem perdido e que se reencontrarem tudo voltará a ficar bem. E não é assim que agimos?! E não é assim que pensamos?! O interessante é que o filme se inicia em preto e branco e quando eles iniciam a jornada ele fica colorido. Enquanto eles o buscam, descobrem o mundo e se surpreendem com as pessoas e com aqueles que mais confiam, a gata e o cachorro que a fada transformou em humanos para os ajudar na trajetória... Este filme tem 83 anos e para mim é uma obra prima ainda hoje, porque ele retrata a motivação do homem na busca do que considera ser a sua felicidade, o seu pássaro azul, sem dar-se conta de que nós somos a sua gaiola e também a sua libertação. Às vezes perdemos, nos perdemos ...

Dia 495 - É seu este eu te amo

Imagem
'É seu este eu te amo' e não tenho por quê explicar, se algum dia precisar fazê-lo não será amor, mas, apenas zelo o que tenho para lhe dar. Por isso escrevo, me entenda, toda palavra do bem é amor que se dá... Dar não é receber, é simplesmente entregar porque se acredita valer a pena. É como plantar a semente que se ganha e, às vezes, constatar que ela jamais nascerá naquele lugar onde fora plantada ou você não a verá crescer ou frutificar... Noutros, ela germina e ali o sentido se faz apenas por ser o que se é e nada mais. 'É seu este eu te amo' porque lhe entreguei a semente, mas, não a minha capacidade de seguir em frente, independentemente do que escolher fazer com este presente. Há uma linha tênue que ultrapassada define o que não nos pertence, e todos a conhecemos, embora negamos o fato da sua existência por conveniência. Uma vez que o eu que pense, diga ou faça não muda nada, a linha já fora traçada, então, só posso dizer que o lhe dei é seu eternamente e jama...

Dia 494 - Onde eu também sou você

Imagem
Minha avó tem um jardim, e ela conhece cada plantinha que lá está, dia a dia ela o rega mesmo nos seus 93 anos, ela tira as lagartas das folhas, cuida da terra, arranca as ervas daninhas, cria apoio para alguns caules frágeis... Às vezes ela faz escolhas difíceis, arranca alguma planta, aparentemente saudável, para dar lugar a outra, pois no seu entendimento existe uma ‘seleção natural’... Nunca saberei, se com o tempo esta decisão sempre pesa em seu coração ou se depois, de tanto arrancar algumas raízes, se acostuma com a dor... Eu costumava matar plantas por excesso, de sede ou afogadas, escolhia somente aquelas que, apesar da minha falta de atenção, iriam sobreviver até que eu lembrasse de regá-las novamente. Mas, um dia até a planta mais forte morreu e quando me dei conta percebi que eu e ela tínhamos muito em comum... Parece clichê dizer que o ser humano é como uma planta, que relacionamentos são como plantas, mas, não é. O clichê é ordinário, mas, pessoas e relacionamentos, assim...

Dia 493 - Imaginação

Imagem
Às vezes, tenho vontade de me sentar à margem para observar o mundo passar... Acredite, ele passa diante dos nossos olhos e em alta velocidade! Quando era criança achava que a estrada se movia, que eram as árvores que corriam, enquanto eu ficava parada dentro de um carro viajante, ele tinha asas e eu muita imaginação. Às vezes, fico feliz de ainda ser assim... Ter este olhar... Mas, tem dias que basta-me estar num restaurante, num canto qualquer a ver o mundo se movimentar... Há uma certa paz em não se fazer nada, não dizer nada, mas, ela só dura alguns minutos, porque é impossível eu não pensar em nada. A minha criança interior não me deixa em silêncio, ela puxa meu rosto e me diz: Olha lá!! Enquanto meu adulto faz cara feia... Então, ele se levanta e paga a conta. Mas, quem sabe no caminho surpreenda-me a imaginação de assalto: Asas ao alto! Isso é um sonho! E lá vou eu escrever pelas estradas que se movem e entre as árvores que correm... Texto: GeoSRS Créditos da foto: Joe Baran @au...