Dia 90 - Tempo e momento

Ela o fitou nos olhos...estavam de mãos dadas, havia ternura naquele olhar, no dela, lágrimas.

Por um instante tocou-lhe o rosto, passou os dedos sobre suas sobrancelha e a ajeitou. Olhos tristes ele tem, daqueles que pedem colo o tempo todo - ela pensou...mas não falou.

Passou a mão sobre os cabelos dele, em seus dois redemoinhos, ele riu, baixou a cabeça e aceitou o carinho.

Mas o tempo já havia se esgotado e ambos estavam cansados, tinham que cumprir o trabalho diário a eles delegado.

Corações partidos são assim: doem, ficam perdidos e desconsolados. No entanto, a mente racional e pragmática estava em ação e queria a todo custo convencê-los de que estava certa e eles errados. E conseguiu.

E iniciou-se a partida...

As mãos se descruzaram...

Os olhos se turvaram...

A voz embargou...

A música do silêncio começou a tocar...

Se deram um abraço com nó na garganta, pressão da lembrança e um fio de esperança, tudo junto, misturado.

Distrairam-se por um momento naquele abraço e se encontraram, como se conheceram.

Mas não durou o encanto, e era este o mesmo motivo de tanto palavrear...

Mas de nada adianta falar, quando temos que sentir.

Há hora para tudo neste mundo, está escrito em Gêneses e vivenciamos aqui.

Verdade seja dita, de muitas coisas não sabemos...mas a vida é e sempre será marcada...

Por chegadas e despedidas.
Mesmo que por um momento.


Comentários

Elvira Carvalho disse…
Ora bem Geo. Um dia alguém me disse que a vida era uma gigantesca estação onde estavam sempre a chegar e a partir comboios que levavam e traziam pessoas que de uma maneira ou outra faziam parte da nossa vida.
Um abraço
Elvira Carvalho disse…
Tem um desafio para si no Sexta-feira.
Um abraço
Vicente disse…
Olá Geovanna,
Torga:
" Toda a vida humana é uma breve ou demorada despedida, que começa, de facto, logo à nascença, e acaba aparentemente no dia da morte. Despedida dolorosa do aconchego do ventre materno, primeiro, e, depois, de tudo quanto temos de melhor: meninice, juventude, dons naturais, saúde, bens, alegrias e, finalmente, a própria luz da consciência. Mas sóficamos verdadeiramente desprendidos de tudo quando somos esquecidos. Quando ninguém mais se lembra dos traços singulares da nossa fisionomia fisica e espiritual, e no coração lhe não dói a dor da nossa ausência."

Por isso há vidas que não têm um momento...são vazias...futeis...outras que têm momentos que passa...mas que perduram enquanto alguém...ainda que longe, se lembrar...ainda que longe lhe doer...Esse momento que descreve tão bem...está na sua alma ...então está vivo...
Um beijo
Anderson San disse…
Penso sempre em ultrapassar barreiras, obstáculos sempre vão aparecer, temos que lutar para conseguir ficar perto da pessoa amada, até quando percebemos que essa luta é solitária, será que vale...
tudo vale a pena , se a alma não é pequena.
bj gatinha
António Inglês disse…
Andamos uma vida inteira a despedir-mo-nos de muita coisa mas também chegam muitas outras.
é assim como um cais.
Por cada uma que parte, outra chegará e diferente porque é isso que nos dá o sal da vida.
Um abraço
José Gonçalves